terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Série: Há 50 anos, o golpe, a dor, a resistência

"E a história humana não se desenrola apenas nos campos de batalha e nos gabinetes presidenciais. Ela se desenrola também nos quintais, entre plantas e galinhas, nas ruas do subúrbio, nas casas de jogos, nos prostíbulos, nos colégios, nas usinas, nos namoros de esquinas. Disso eu quis fazer a minha poesia. Dessa matéria humilde e humilhada, dessa vida obscura e injustiçada, porque o canto não pode ser uma traição à vida, e só é justo cantar se o nosso canto arrasta consigo as pessoas e as coisas que não tem voz.” Ferreira Gullar

Em 2014, para além de ser o ano da Copa do Mundo, que promete intensos movimentos, lembraremos os 50 anos do golpe militar que tomou nosso país por longos 20 anos. Eu nasci em julho de 1970, o povo ainda comemorava o tricampeonato mundial, no jogo que o Brasil venceu por 4 x 1 da Itália, no México.

Era a Copa do “Brasil, ame-o ou deixei-o”, em pleno recrudescimento da repressão após o decreto do AI-5, promulgado em 13 de dezembro de 1968. Apesar de ser criança e viver em um lugar afastado dos grandes centros, o clima de medo e histórias de terror chegavam em minha casa. Lembro de um vizinho, que hoje sei que era militar, contar cenas de tortura que povoaram meus sonhos. Também na escola, nos meus primeiros anos, convivi com castigos físicos, como ajoelhar no milho. Nunca passei por isso, mas da sala de aula escutávamos os gritos de dor, enquanto fazíamos de conta que nada acontecia.

Acredito que muito será lembrado, revelado e debatido neste 2014, então resolvi retomar textos que escrevi para a minha monografia do curso de Jornalismo em 1994. Na pesquisa sobre a Imprensa do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), iniciei com um histórico dos anos de chumbo, a luta dos movimentos sociais e a importância da comunicação popular e alternativa, que pretendo resgatar nesta série “Há 50 anos, o golpe, a dor, a resistência”.

A partir do dia 10 de março, vou postar um artigo por dia.